quarta-feira, 8 de julho de 2009

Dia 8 de Julho de 2009

Por todos os Blogs porque tenho passado e todas as testemunhas que tenho ouvido (incluindo as que de forma tão pronta visitam o meu espaço diariamente) são unânimes ao afirmar que o cancro não é uma doença pessoa, é uma doença de família. Além de todo o sofrimento por que passa o doente, não é menos doloroso para aqueles que o rodeiam e que pouco ou nada podem fazer para ajudar. Aliás, não poucas vezes ouvi a minha mãe afirmar que talvez sofresse mais se outra pessoa da família estivesse doente do que na situação em que se encontra. A minha família sempre foi muito unida apesar da distância que separa muitos de nos ao longo do ano (família tradicional portuguesa com o seu numero razoável de elementos no estrangeiro) e nos últimos dias tem-me custado perceber que quase ninguém tem ligado para falar com a minha mãe. Apesar de eu receber mensagens diariamente onde me dão força e me incitam a continuar a lutar, a minha mãe não tem falado com quase ninguém. Decidi tirar o assunto a limpo e falar com uma prima que me explicou que ninguém tem ligado porque têm algum pavor de falar do assunto com a minha mãe. Não pude deixar de me revoltar com esta afirmação. Também me sinto aterrorizado de cada vez que falo do assunto, cada vez que me lembro do que se está a passar mas não é por isso que deixai de falar com a minha mãe. Neste momento o mais importante é ela e os medos têm de ser ultrapassados. Expliquei-lhe isto. Prometeu falar com a restante família e recebemos dois telefonemas que entreteram e distraíram a minha mãe durante todo o dia. A primeira conversa é sempre a mais complicada. Depois de hoje sei que irá receber mais chamada, ou pelo menos assim o espero.

Por outro lado, hoje a minha mãe deixou-me um pouco preocupado. Queixou-se durante o dia de algumas dores no peito e no ombro, o que não pode de forma alguma significar nada de bom. Cada vez mais sinto que a consulta no IPO tarda em chegar. Dia 15 ainda se mostra tão distante e o tumor pode estar num estado já bastante avançado. Tento não pensar nisto, mas espero que o mau estar dela tenha passado amanhã.

De resto os meus dias têm-se mostrado algo repetitivos. O estudo para o código tem ocupado a maior parte do dia e pouco mais faço além das tarefas domésticas que agora estão a meu cargo (quando a minha mãe não tenta sub-repticiamente limpara a casa ou lavar a loiça quando estou distraído) e ver as minhas séries favoritas (outro vício meu).

E claro que não pude deixar de ficar feliz ao ler os comentários ao meu post de ontem onde percebi que se um dia me vier a formar em Medicina Veterinária tenho já um número razoável de pacientes para tratar (Estou a brincar, claro).

4 comentários:

  1. É verdade que o cancro é uma doença de família e de amigos. Mas o diálogo pode ser muito difícil. Acho que ninguém está bem preparado para enfrentar isso, mas, como tudo na vida, também se aprende e também se ensina. E as pessoas que estão à volta bem que agradecem que se lhes explique como devem actuar, porque querem ajudar, querem estar presentes e não sabem como. Acaba por ser uma aprendizagem comum... que nos faz crescer a todos.
    Beijinhos para todos aí

    A propósito, conheço essa zona; já estive em Mourilhe no Hotel Rural (no baptizado da minha afilhada, feito pelo Padre Fontes) e sou madrinha de casamento de um natural de Boticas...

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  2. Bom dia
    é como a Nela diz é uma doença que abraça toda a família , para quem está ao lado da pessoa doente sente-se impotente ao não conseguír dar saúde e fazê-la melhorar mas o carinho e amor ajuda muito acredita!
    Sentir-mos que não estamos sós é meio caminho para esta luta. O facto dos familiares ou amigos não telefonarem é tudo ainda muito recente e para muitas pessoas a palavra cancro ainda não é dita por medo, com a continuação do tempo e a evolução dos tratamentos as coisas podem melhorar. E muitas vezes temos nós a doentes a ligar a dizer o que se passa e que vamos lutar e ter fé que vai correr tudo bem. O facto de mostrar e sentir-mos positivismo também ajuda aqueles que têm medo!
    Beijinhos e as melhoras

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  3. Olá Rui,
    Gostei de saber que queres ser veterinário e adoras animais...portanto só podes uma boa pessoa. Desejo que os teus sonhos se concretizem!
    Parabéns, tiveste uma nota execelente!

    Gostaria de ler o guião que andas a escrever, mas não consigo abrir de maneira nenhuma!

    Em relação ao aos famíliares é assim, por vezes não têm coragem para abordar o assunto, não é por mal, ou por ficarem indeferentes, é sempre difícil para todos... quase sempre é o doente que ainda conforta a famíla podes crer...

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  4. Olá Rui, dá um beijinho à tua mãe e diz-lhe que estás à altura das coisas, pois é o que tu tens revelado nestes teus posts. Comigo também aconteceu haver pessoas que não me telefonavam porque não sabiam como abordar e falar sobre a doença. Boa, Rui, foi muito boa a tua atitude de cascar na prima. Assim é que é. Por estas coisas é que se vê que tu estás à altura das coisas. Beijinhos para ti e para a tua mãe. Não te esqueças.

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