sábado, 4 de julho de 2009

Dia 4 de Julho de 2009

Hoje foi talvez o dia mais calmo desde que a fatídica notícia abalou sobre a nossa família. Como as obras continuam a decorrer ruidosamente em minha casa, decidi “expulsar” a minha mãe e passamos o dia a apanhar sol no jardim da casa da minha tia. Eu passei a tarde quase toda a estudar para o código enquanto a minha mãe e a minha tia conversaram sobre os mais variadíssimos assuntos exceptuando a doença.
Desde que eu me encarreguei de contar a toda a família o que se passa com a minha mãe que poucas vezes se fala no assunto. Eu percebo a reacção da família, afinal de contas falar do assunto é sempre doloroso e há o medo de desencadear reacções emocionais inesperadas mas penso que é importante que se fale de vez em quando, pelo menos para mostrar que há apoio mutou de todos os membros. A minha mãe percebeu isso mesmo e comentou comigo que nenhum dos familiares que se encontra na França telefonou ainda para falar com ela (apesar de eu ter recebido muitas mensagens de apoio ao longo dos últimos dias) pelo que decidi tirar o assunto a limpo. Falei com uma prima minha na internet e esta explicou-me que toda a família tem vontade de ligar, mas há em todos um certo receio de fazer, como se o confronto directo com a minha mãe seja de certa forma a evidência de que o problema é real e que não há escapatória para o que se avizinha. Expliquei-lhe que a minha mãe se está a sentir um pouco abandonada por eles e incentivei-a a pedir aos meus tios que lhe telefonasses amanhã, algo que espero que vão fazer.
Apenas a minha avó ainda não sabe nada sobre o assunto. Talvez nem venha a saber. A idade avançada criou nela o normal sentimento de isolamento do resto do mundo e penso que mesmo que lhe fosse explicada a situação não perceberia o problema na sua atitude. Para todos os efeitos o problema no ombro continua a ser uma boa escapatória e explicação quando ela nos inquere sobre o facto de a minha mãe não estar a trabalhar e consegue ocultar, por agora o verdadeiro problema.
Consegui convencer a minha mãe a visitarmos o parque de diversões amanhã. Não tenho a certeza se estará aberto mas não é importante. Mesmo que façamos a viagem e encontremos o parque fechado, o facto de sairmos de casa e espairecermos um pouco será suficiente para nos levantar um pouco o moral.

1 comentário:

  1. Pois é. Infelizmente, ainda há muitas pessoas com receio de falar de cancro. Apesar da minha família ter sido alvo de muitos cancros, ninguém consegue falar disso. Ainda ontem, falei com a minha mãe ao telefone, e após falar de cancro (o meu pai aguarda resultado da biópsia à próstata) a minha mãe mudou logo de assunto.
    É bem mais doloroso do que se se falasse do assunto abertamente até porque o silêncio, não existe. As atitudes, linguagem não verbal, diz muito. Enfim. Espero sinceramente que consigas todo o apoio que precisam. O isolamento, é horrível.
    Bom passeio e bom domingo

    VandaReis

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