sexta-feira, 10 de julho de 2009

Dia 10 de Julho de 2009

A minha mãe acordou com menos dores, ou pelo menos assim afirma. De qualquer forma a sua mama está muito inchada e isso é visível mesmo por cima da camisola sem ser necessária uma análise muito aprofundada. Foi no dia em que a minha mãe me contou sobre o tumor no peito a última vez que lhe inchou, ou seja, há pouco menos de uma semana. Mais um mistério da situação que não sei avaliar como normal ou preocupante. Apesar de afirmar estar melhor que ontem, estas dores fizeram-na esmorecer de novo. Apesar de ao longo da semana passada a ter visto relativamente bem-disposta (excluindo alguns momentos de expressões faciais mais forçadas e olhos húmidos perfeitamente compreensíveis), desde ontem que a vejo desanimada, calada e com uma enorme tendência para se deitar no sofá e não fazer absolutamente nada. Claro está que tive de me impor um pouco e força-la a sair de casa para que se pudesse distrair um pouco.

Decidi que deveríamos visitar a minha avó. Desde que toda esta situação desagradável se iniciou que não tivemos oportunidade de estar muito com ela. A minha avó é uma daquelas senhoras adoráveis tipicamente transmontanas com as suas vestes de luto e cabelos brancos a lembrar sabedorias ancestrais que jamais poderemos adquirir. Apesar de não ser ainda muito idosa (80 anos feitos em Abril) os últimos anos têm tido consequências pouco benéficas na sua saúde que se tem traduzido principalmente a nível psicológico. Não que apresente alguma demência, mas desenvolveu dois problemas que por vezes tornam a sua companhia um pouco desagradável: hipocondria e paranóia ligeira. Isto traduz-se no facto de o seu tema de conversa se centrar constantemente na diferentes doenças de que pensa padecer e de fazer verdadeiros dramas com situações banais. Estes dois problemas têm feito com que nos últimos anos se tenha abstraído um pouco do mundo que a rodeia e que pouca importância dê a qualquer problema diferente das doenças de que julga sofrer. É precisamente por essa razão que ainda não foi informada da doença da minha mãe. É provável que não perceba o problema na sua globalidade mesmo que lhe seja explicado, mas achamos por bem não lhe contar para que não se preocupe com algo que não irá reter completamente. De qualquer forma tem conhecimento do problema do ombro de que a minha mãe já se tem queixado há mais tempo e isso é resposta suficiente para explicar a baixa da minha mãe e a sua presença mais periódica em casa.

Como contava parágrafos atrás, passamos a tarde em casa dela e o momento de amena cavaqueira entre a minha mãe e a minha tia (responsável pela minha avó desde que esta sofreu as baixas de saúde que expliquei antes) serviram para a distrair um pouco e deu-me também oportunidade para me abstrair um pouco dos problemas e aproveitar o lindo dia de sol que se fez sentir. É que cada vez mais sinto algo: o cancro está entre nós e não posso fazer mais que aprender a viver com ele. Mas apesar de ter de o aceitar, não lhe vou dar o prazer de me mergulhar num antro de tristezas e amarguras. Vou antes ignorá-lo por completo e não lhe dar mais importância do que ela de facto merece. Porque uma doença desta só pode ser combatida desta forma: rebaixando-a e impedindo que estenda as suas raízes pútridas e infecte tudo o que demais humano temos dentro de nós.

Pois é, os meus posts andam diferentes ultimamente. Mas decidi que vou tentar expor a minha família para que quem lê perceba quem me rodeia e entenda de que forma a forma como me educaram fez de mim o que sou hoje com tudo o que de bom e mau isso possa significar.

7 comentários:

  1. Olá Rui, gostei muito deste post, especialmente das ultimas frases, escreves muito bem!
    Percebe-se que tens uma boa família que te educaram bem, e te transmitiram valores que vão fazer de ti um grande homem.

    Em relação ao post de ontem, e às tuas dúvidas sobre as dores que a tua mãe está a sentir, cada caso é um caso, eu não senti dor, cansaço, nada que me alertasse que estava doente, descocobri ao fazer uma consulta de rotina, faz amanhã precisamente 3 anos que isso aconteceu!

    Rui, tenta pensar sempre positivamente, porque tudo pode ser menos grave do que se supõe, e os nervos só atrapalham... Acreditar e ter esperança ajuda muito, tudo é menos doloroso...
    Força!!!
    Um beijinho.
    Alda

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  2. Grande Rui!
    Surpreendes-me cada dia que passa com a tua coragem e determinação.
    Continua assim, e fáz com que esse bicho seja de facto ignorado, dá-lhe realmente o valor que ele merece, mas não deixes que seja ele a comandar a tua vida.
    Dá força e ânimo à tua mãe, pelo que li estás a agir de forma muito positiva para com ela, continua a agir assim, não deixes que ela mergulhe na tristeza, dá-lhe força, e ela própria na altura certa, saberá compreender que a esperança é a última coisa a morrer.
    Sem querer dar-te esperanças, talvez um destes dias nos encontremos para verificares que cancro não é sinal de morte, eu estou cá!
    beijinhos e bom fim de semana para vós.
    Isabel Alegria

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  3. Mais uma vez Rui te tenho de dizer que a tua maturidade perante a vida me surpreende, dada a tua juventude. Parabéns, Rui, pela tua atitude e pela tua escrita. Não queres mesmo virar a agulha e ingressares em medicina. É que são precisas pessoas com a tua evidente excelência humana, na área dos precisamente "humanos". Não é que eu despreze ou ache inferior o teu carinho, ou o de outros, elos animais, mas o carinho pelas pessoas às vezes parece estar em baixa. Desculpa a intromissão nos teus desejos! É por bem! Beijinhos

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  4. Faço minhas as palavras da Isa " Grande Rui" deves ser ser duvida um orgulho para os teus pais, sabes tambem eu como tua mãe tenho cancro da mama e tenho um filho com 21 anos de que muito me orgulho, que tem estado sempre ao meu lado me dando carinho conforto e sobretudo muita esperança, é por ele que vou lutando dia a dia, por isso Rui eu te admiro pela tua coragem e determinação,
    não é justo os filhos deveriam ser poupados deste sofrimento, mas como isso não é possivel, quero te dizer que acredites, acredita sempre que o amor vencerá, a fe e a esperança nunca devem morrer, acredita que a tua mãe vai vencer

    um beijinho enorme
    Maguie

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  5. Ora então aqui está mais uma a dizer: Grande Rui!
    De facto!

    E tens razão: o cancro está aí e não podes fingir que não. Mas a luta também está garantida. isso já percebemos.

    Beijinhos

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  6. Boa Rui, vai à luta e não desanimes, coragem e muita esperança é o que é preciso. A tua mãe sabe de certeza o grande filho que tem e vais estar sempre ai para lhe dar carinho e apoio.
    Beijinhos

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  7. *****

    Olá, depois de muito tentar consegui entrar no teu blog. Foi dificil.

    Venho só dar-te um miminho e dizer-te que tens razão de preocupação, mas e muito bem, também tens de pensar em ti.

    Os dias de espera são terríveis, mas o tempo passará... mais devagar do que costume mas tenta serenar a tua mãe, ouve-a ouve-lhe até os silêncios...

    Nós daqui deste lado tentaremos acompanhar-te e dar-te força, pelo menos sabes que há muitas amigas a pensar em ti e a pedir por vós.
    Que o tempo avance...
    Um abraço,
    laura

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