sexta-feira, 31 de julho de 2009
31 de Julho de 2009
quinta-feira, 30 de julho de 2009
30 de Julho de 2009
“Olá! Então é a Dona Lucília Damásio?”
“ Sim, sou eu.”
“Vamos lá ver então o que se passa consigo. Tem algum documento do médico?”
“Tenho sim.”
“Ah mas você tem cancro na mama?”
“Tenho sim.”
“Ora nem precisava de ter vindo cá. Claro que está dispensada e com a baixa assegurada.”
“Está bem. Boa tarde Sr. Doutor”
“Boa tarde Dona Lucília”
A isto se resumiu a visita da minha mãe à junta médica da segurança social de Vila Real. Quilómetros de viagem para em 5 minutos de uma conversa inútil em que se confirmou que a minha mãe não está apta para trabalhar (e o mais hilariante é que nem se referiu o ombro, esse sim o verdadeiro problema incapacitante). Mesmo assim ainda fomos informados de que terá de se apresentar uma vez por mês no mesmo local para dar provas, como se o cancro fosse uma doença passageira, qual gripe ou constipação que algum analgésico milagroso possa curar rapidamente. Enfim, não me alongo mais neste assunto. São as leis que temos e no país que temos, não poderíamos esperar outra coisa.
A minha mãe ficou chocada com as declarações de uma prima sua sobre os boatos que correm a seu respeito pela aldeia. Segundo ela, as simpáticas senhoras de Alturas do Barroso não estão contentes com o comportamento da minha mãe. E passo a citar “Ela não vem À rua falar connosco. Não se abre com as amigas (?) nem conta o que se passa. Quando a Maria teve cancro (uma senhora que teve cancro no útero cá na aldeia) andava na rua a conversar e beijava toda a gente (podem-se rir, porque eu também me ri). A Lucília não faz isso, nem parece que está doente”.
Perante estas opiniões, não posso deixar de sentir pena profunda de quem é capaz de dizer coisas como estas? A minha mãe nunca foi pessoa de passar intermináveis horas em conversas e fofoquices na rua e não ia começar a fazê-lo agora. A minha mãe tem família com quem se abrir e não ia arriscar a contar pormenores a alguém que de imediato criaria um romance fatal em torno de qualquer informação recebida. A minha mãe não tem por hábito beijar as pessoas quando está doente e se a senhora Maria o fez quando assim estava é porque em alguma fase do tratamento algo correu mal e a sua integridade mental foi posta em perigo.
Sim, fico revoltado com esta situação e percebo a origem destes comentários desagradáveis: o aparecimento da doença da minha mãe foi, para as senhoras queridas da minha aldeia, o surgimento de um novo tema de conversa que renderia meses e meses de assuntos diversos para discutir. Ora, como ao contrário do esperado, a minha mãe não chora e se lamente perto destas senhoras, não dá beijos (que seriam certamente de despedida, apesar de não compreender muito bem) às pessoas que encontra nem passa a vida a falar do cancro, as senhoras acharam por bem investir de outra forma e falar mal da pacatez com que enfrenta a doença, como se para estar doente seja necessário contar a vida às vizinhas fofoqueiras para que estas a espalhem rapidamente num raio quase incalculável. Calem-se senhoras e deixem a minha mãe em pás. Ela está muito bem sem desabafar com vocês e comentários como estes dão até para alimentar alguma boas gargalhadas irónicas.
Peço desculpa pelo discurso sarcástico. Estes dias ando assim, azedo e com os humores trocados. Amanhã vou ter outra vez aulas de condução. Espero que venham a correr melhor do que até aqui ou não sei se aguento a aula toda sem dar um raspanete ao instrutor (coisa que em dias normais seria completamente incapaz de fazer).
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Dia 29 de Julho de 2009
terça-feira, 28 de julho de 2009
Dia 28 de Julho de 2009
A minha mãe recebeu hoje uma carta da segurança social obrigando-a a estar presente na próxima quarta-feira em Vila Real para se confirmar que está, de facto, doente. Acho este processo ligeiramente desnecessário, afinal de contas, se o próprio médico de família mandou para lá documentos afirmando que ela está incapacitada do braço e que além disso sofre de cancro da mama, de que tipos de prova poderão precisar os responsáveis pela baixa de saúde para continuar a fornecê-la? Este caso faz-me lembrar o badalado caso da professora que possuindo um cancro na língua foi considerada apta para leccionar numa destes tipos de consulta. Espero que num acesso de loucura não vão também considerar a minha mãe apta para conduzir no emprego. Afinal de contas, neste país nunca se sabe que casos incríveis se podem criar.
De qualquer das formas a minha mãe teve de ir já hoje a Boticas falar com o médico de família (para que este lhe desse mais um documento com as informações clínicas da minha mãe) e quinta teremos de voltar a Vila Real. Além disso, na próxima segunda-feira teremos de ir a chaves para a minha mãe levantar os resultados da ressonância magnética que fez também em vila real (este problema do ombro, que desconfio cada vez mais não estar relacionado com o cancro começa a ser bastante inconveniente numa altura destas).
Quanto a mim, estou cansadíssimo. Tenho acordado sempre de madrugada e as aulas de condução, por mais divertidas que possam ser, são também stressantes e fatigantes. Estou mesmo a precisar de uma boa manhã de sono…
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Dia 27 de Julho de 2009 –
Esta semana a minha rotina será mais ou menos esta: acordar cedíssimo para apanhar o autocarro que me levará a Boticas onde tenho as minhas aulas de condução, horas da espera antes da aula, outras tantas depois para poder apanhar o autocarro e regressar à minha aldeia. O dia de hoje não iniciou propriamente esta rotina visto que os meus tios foram também a Boticas e deram-me boleia. As aulas de condução estão a correr bem. Hoje já fiz inversão de marcha, ponto de embraiagem… enfim, acho que não está mal.
Acabei por almoçar com os meus tios em Boticas e quando regressamos à aldeia passei o dia com as minhas primas, acabando inclusive por jantar lá. Só cheguei a casa bastante tarde e a minha mãe contou-me que as suas patroas a visitaram hoje para saberem como estava, acabando por tomar conhecimento do cancro da mama. Mostraram-se bastante solidárias e prestativas, alias como toda a gente em geral tem sido com a minha mãe. Ela a chegou a afirmar que antes de todos estes problemas “Não sabia que tinhas tantos amigos come quem contar”.
Dia 26 de Julho de 2009
A minha mãe não noos acompanhou porque recebeu um telefonema de uma amiga de longa data que decidiu visitá-la. Como tal, passaram a tarde em amena cavaqueira a falar da vida, recordações e muitos outros temas de conversa que sempre vêm à baila numa conversa entre duas mulheres que não se vêm há muito (com todo o respeito que tenho por estas conversas, afinal de contas já Saramago dizia “É a conversa das mulher que faz rodar o mundo).
sábado, 25 de julho de 2009
Dia 25 de Julho de 2009 – O regresso
Finalmente o computador foi devolvido. A manutenção durou mais do que estava à espera mas em compensação o computador está como novo… vejamos até quando. O computador é quase como a nossa saúde: só lhe damos o devido valor quando nos falta.
Ora bem, como passei alguns dias sem escrever, vou tentar contar o que se passou.
Comecei a ter as minhas aulas de condução. Tive duas horas na quarta-feira e mais duas na quinta-feira. Correram bastante bem, nem pensava que me ia sair assim. Para a semana terei aulas todos os dias pelo que em duas semanas (espero eu) estarei pronto para ir a exame. O único inconveniente no meio disto tudo é o facto de ter aulas às nove da manhã. A hora em si não é muito problemática, o grande problema é que eu tenho de sair da minha aldeia às seis horas e esperar duas horas antes e duas depois de cada aula para poder regressar a casa. Como já aqui disse que o que mais me custa é acordar cedo, percebe-se que seja um tanto ou quanto desagradável. Mas estou a gostar por isso hei-de conseguir fazer todas as aulas sem problema.
Ontem fomos ao Porto para que a minha mãe realizasse mais uma série de exames. Realizou exames, um electrocardiograma e um exame cujo nome desconheço mas que se realizou na ala da medicina nuclear. Depois do almoço fomos visitar o novo oceanário do porto o “SEA-LIFE”. É um espaço bastante agradável onde se podem conhecer diferentes espécies de peixes. Adorei ver especialmente as Raias, são animais mesmo incríveis. Mas este devaneio deve-se unicamente ao facto de ser um futuro veterinário louco por animais a falar. De qualquer das formas aconselho todos os que puderem a visitar o espaço. Vale a pena e nem é caro.
A minha mãe tem andado bastante bem-disposta. Já quase toda a gente sabe da doença de que padece ( a notícia espalhou-se também ela como um cancro: de forma rápida e eficaz) e tem de ser bombardeada diariamente pelas mesmas perguntas sobre os malefícios, tratamentos e todo o tipo de informações sobre o cancro da mama. E nem nós os filhos escapamos, nem que seja um simples olhar de pena quando passamos ou sussurros mal disfarçados que dizem claramente “coitados: tão novos e já vão perder a mãe”. Abomino estas situações, a curiosidade mórbida e vontade irresistível de chamar coitados a quem tem algum problema. Não precisamos que tenham pena de nós. Precisamos sim que as pessoas apoiem se for necessário mas que não tentem exagerar naquilo que se passa, inventado informações falsas sobre aquilo que se está a passar. E acreditem que no espaço de uma semana já não foi uma nem duas as mentiras que tivemos de desmentir porque alguém decidiu começar a sentenciar desfechos pouco felizes para tudo o que estamos a enfrentar. Entre elas estava a informação de que a minha mãe teria de cortar o braço direito quando ainda nem sequer sabemos o que se passa com o ombro. E fico por aqui neste assunto…
O blog volta finalmente ao activo. Amanhã há uma festa aqui perto. Vou falar com o meu tio para que possamos lá passar. Também me disse que descobriu uma tal Beata Alexandrina, uma senhora que foi beatificada e que tem realizado vários milagres nos últimos anos e pretende visitá-la. Não vou voltar a expor a minha descrença em relação a estes assuntos porque como dizem que fé é metade da cura, vou tentar fazer que também visitemos o local (apesar de não saber onde está o santuário desta sante).