quarta-feira, 1 de julho de 2009

Dia 1 de Julho de 2009

Os primeiros contratempos começam a surgir ainda antes de serem esperados. De manhã a minha mãe recebeu uma chamada do centro de saúde onde lhe explicaram que o fax enviado pelo médico de família não fora aceite devido à falta de exames comprovativos da existência de um tumor. Este problema faz com que amanhã ela tenha de se dirigir mais uma vez a boticas para falar com o médico para se marcar um exame, talvez uma mamografia, não sei ao certo. Isto irá atrasar de forma drástica todo o processo porque é certo que demorará uma semana no mínimo para que o exame seja feito e os resultados sejam conhecidos. Isto dá-me medo. Sei que se trata de uma corrida contra o tempo e que cada dia que passa pode ser decisivo, mas não há nada a fazer, temos de esperar que consigam encaminhar tudo de forma rápida.

Contei à minha tia Gorete o que se está a passar. Disse à minha mãe para o fazer, mas não teve coragem. Eu também não a tinha, mas já percebi que nesta nova fase da minha vida, coragem terá de ser materializada por mim mesmo quando for necessário. A reacção dela foi a esperada. Lágrimas, injurias contra a minha mãe por não ter agido mais cedo, mas no fim as palavras de alento tentando confortar-me e dar-me força para apoiar a minha mãe. Ouvi estes apoios várias vezes ao longo do dia. Várias mensagens dos meus familiares em França afirmando a necessidade de ser forte, de manter a cabeça erguida, de pensar só no melhor. Eu tento-o a toda a hora, mas torna-se difícil quando por trás do sorriso que vou mostrando aos que me rodeiam, essencialmente para confortar a minha mãe, um medo implacável, quase desumano se apodera de mim e destrói todas as esperanças que tento manter acesas.

A minha mãe manteve-se calma ao longo do dia, mas apenas quando falava connosco. Mais que uma vez a encontrei com os olhos húmidos das lágrimas que teimam em sair por mais que as tentemos parar e em todas essas vezes puxei um assunto ridículo que nos fizesse rir, para que essa gargalhada pudesse, nem que fosse por momentos, tirar os pensamentos malignos da nossa mente.

A minha irmã continua radiante com os seus dias despreocupados, contentíssima pela mãe também estar de "férias" e por poder brincar o dia inteiro. Hoje abraçou-se a ela e disse-lhe que a amava. O coração partiu-se-me só de pensar no que irá ser a vida dela se, apesar de toda a esperança que todos mantemos, algo correr mal. Convenci-a a ajudar-me a dar uma arrumação à casa e assim fez, imaginando de imediato mil e uma brincadeiras próprias da sua inocência despreocupada. Quando arrumava a sala encontrei um casaco da minha mãe. Cheirei-o! O perfume dela fez-me chorar mais uma vez, como se fosse distante, uma sensação estranha de vazio, de perda antecipada. Sei que não me devia estar a sentir assim, que devia ter uma pensamento positivo mas tem sido muito difícil. Guardei o casaco no meu quarto. Ficará lá até este inferno terminar, para quando sentir necessidade de estar com ela e não puder.

O meu pai marcou-me o exame de código para a carta de condução. Percebi qual o seu objectivo: dar-me algo para me entreter e esquecer o assunto, enquanto estudar para o exame. Não sei se conseguirei. Todas essas coisas me parecem ridículas e acessórias neste momento.

Amanhã vou com a minha mãe ao médico para que ela marque o exame ao peito e faça as análises necessárias para o problema no ombro que continua sem compreensão. Ela não me pediu, mas sei que precisa que eu esteja perto dela nestes momentos. E estarei, em cada momento, em cada dia que passe, em cada tratamento, em cada operação, estarei com ela com um sorriso nos lábios e uma lágrima no coração.

10 comentários:

  1. Olá Rui, cheguei ao teu blogue pelo blogue da Nela, como já percebeste somos uma corrente de amigas que nos conhecemos pela internet e passámos a estar juntas e a fazer encontros que nos revigoram o corpo e a alma!
    Sou a Isabel, moro em Estarreja e há dois anos foi-me diagnosticado cancro da mama.
    Fui operada faz 2 anos no próximo dia 6 de Agosto, fiz 4 sessões de quimioterapia antes de ser operada para diminuir o tumor que era grande (6 cm) e mais 4 sessões após a cirurgia e fiz 27 sessões de radioterapia.
    Claro que é uma situação muito dolorosa, para o doente e para quem com ele convive, mas muitas vezes doi mais a dor da alma, como eu costumo dizer.
    Quero dizer-te que chorei muito quando soube da notícia, quando me foi dito friamente na consulta de grupo do IPO do Porto que iria ficar sem cabelo, embora eu já soubesse pois trabalho num Hospital e nada destes termos e situações me eram desconhecidos, mas nunca passou pela minha cabeça um pensamento de que não iria vencer, para mim encarei a doença como uma "pneumonia", ainda hoje morre muita gente de pneumonia... e nunca deixei que me tratassem como uma coitadinha, fiz todos os possíveis por parecer estar sempre bem e foi com a ajuda da minha família, (o meu marido, o meu filho, a minha nora e a minha neta), que consegui vencer, foram muito importantes na força e que me deram e foi por eles que nunca me deixei ir abaixo. Conta á tua mãe que conheceste muitas mulheres que já passaram pelo mesmo e vais ver que isso dá-lhe ânimo, eu continuo nas consultas de rotina do IPO, vou voltar lá dia 7 de Julho, se precisares de falar ou de alguma coisa não exites e conta comigo e com todas nós. Vou passando por aqui para saber notícias, mas Rui, toma cuidado não te deixes abater desabafa sempre que precisares estaremos deste lado para te ouvir.
    Um beijo grande com muita ternura e força e as melhoras para a tua mãe!
    Isabel Alegria

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  2. Olá Rui, tu já viste a quantidade de amigas novas tens por aqui? Pois é, é que nós somos assim. Basta uma e a palavra vai passando e cá estamos todas para vos dar apoio e força moral, principalmente.
    Fala com a tua mãe sobre nós, mostra-lhe as mensagens todas que vamos deixando por aqui.
    Espero que a tua mãe já tenha conseguido fazer o exame à mama para os médicos começarem a agir com ela.
    Estamos sempre por aqui. Sim, porque ainda não te disse, mas nós somos todas umas melgasssssss!

    Um grande beijo e muita força!

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  3. Rui, foca a tua mente naquilo que é um desfecho positivo para a situação da tua mãe. Tira a carta, tens idade para isso, pode ajudar a tua família a dividir tarefas (levares a tua mãe aos tratamentos, às consultas de rotina, etc...), faz a tua vida de jovem de 18 anos. A minha filha tinha 16 anos quando eu adoeci e eu pedi-lhe (bem como ao resto da família) para continuar a sua vida como normalmente e se fosse preciso alguma coisa, eu pediria. Não há nada que faça uma mãe mais feliz do que ver os seus filhos a crescerem e vencerem as diversas etapas que a idade lhes coloca. Não desistas de tirar a carta, de ir para a universidade, de sair com os amigos. Faz o que é suposto, sem deixares de dar atenção à mãe e ao que ela precisa. Podes conciliar tudo desde que tenhas uma atitude positivista. Vais ver!

    Beijinhos para todos

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  4. Rui,
    Voltei hoje outra vez! Compreendo perfeitamente todas as tuas palavras do teu texto! Senti-me exactamente assim! Chegou a uma altura que não conseguia decifrar o amor de mãe para amor de irmão... O amor de irmão é enorme e ainda não posso comparar com o de mãe, porque ainda não o fui! De qualquer forma, também na altura, eu só pedia a Deus para Ele ajudar o meu irmão, para mim o resto não importava! No entanto, tenta nunca deixar de fazer aquilo que te é próprio da idade! Eu sei que muitas vezes não te vai apetecer sair ou estar com os teus amigos... eu sei! Também a mim não me apetecia e nem achava graça às brincadeiras que faziam como antes... Mas acredita que tens de "batalhar" contra isso e agir o mais naturalmente possível!
    Quanto à tua mãe, pensa que tudo vai passar e vão ficar todos bem... Ela vai melhorar! Importante é manter o pensamento positivo! Sempre que tiveres esses pensamentos maus, tenta pensar em coisas boas! O meu último post é mesmo sobre essa história de superstições e afins...
    Vamos continuar a A-C-R-E-D-I-T-A-R!
    Primeiro que se comece a "agir" nos tratamentos é um penar! No caso do meu irmão foi assim: Tivemos consulta na quinta-feira (24 de Abril)e foi aí que tivemos a certeza do que ele tinha e depois mandaram-nos para casa para digerirmos a ideia! Apesar de na altura querermos começar a matar o bicho o quanto antes, também é importante digerir e resgatar o máximo de forças que conseguirmos para depois nos prepararmos para a luta... O meu irmão só começou a QT a 5 e Maio!
    Sabes o que fizemos entretanto?! Fomos passear, espairecer as ideias, preparar a nossa vida e a nossa cabeça para a mudança... E lutamos!
    Foi assim connosco e será assim com vocês... Eu acredito!
    Daqui a um ano (infelizmente são tratamentos muito prolongados) vamos estar a festejar a vitória! ;)
    Bjins e força para ti e para a tua mãe!

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  5. Bom dia Rui,
    Já viste bem a quantidade de mulheres que te vieram visitar e á tua mãe?!

    O teu pai está a seguir a forma que acha melhor para te manter entusiasmado com a vida, apesar de tudo. Tantoa jovens que gostariam de tirar a carta de condução...faz um esforço e faz o exame. Também ele, para estar presente neste momento deve estar a necessitar de te ver com o olhar no futuro. Tu és capaz!

    Daqui a um tempo vais-te sentir orgulhoso por teres acompanhado a tua mãe, por teres participado na sua luta, por a teres ajudado a vencer e de não teres parado com a tua vida, a vida de um jovem de 18 anos...
    Os teus amigos neste momento também são importantes, fala com eles não te limites ao espaço familiar.

    Ahhhh e não penses nunca que tens que ter força por todos, não caias nesse buraco. Chora quando quizeres, grita quando precisares, ama a tua mãe a ti e sorri sempre. O sorriso é um iman, chama o optimismo e o optimismo é uma peça fundamental nesta fase das vossas vidas.
    E quando te disserem que tens que ser forte por todos... dá-te o direito de não.Tens que ser forte por ti, pela mãe e para ultrapassar tudo isto. Não tens que ser o Super-homem. Apenas precisas de ser tu e assumir os sentimentos presentes.

    Isto já vai longo! É como diz a Loulou, somos mesmo umas melgas, ehehehe

    Bjinhos para a tua mãe e para a tua familia. Espero que essas burocracias de papéis sejam contornadas o mais breve possivel.

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  6. Rui, nem sei como começar teria tantas coisas para te dizer mas não encontro palavras .
    Ao ler tudo o que escreveste rebobinei tudo o que já passei, só que eu não era a minha mãe era a minha filha e sei o que estás a sentir neste momento elas sofrem mas nós também a minha filha tinha apenas 29 anos e quando o marido me telefonou de Lisboa a dizer é cancro, eu pensei o mundo acabou para mim, mas o meu filho mais velho pegou-me nos ombros e disse, mãe chora tudo o que tens a chorar agora, mas ao pé da mana nem uma lágrima temos de ser fortes e pegar o toiro ela nos cornos e nós atrás e eu assim fiz pensei nos meus netos um de nove outra de 2 anos precisavam tanto de mim.
    Acompanhei -a durante aquele tempo muito difícil mas sempre de sorriso nos lábios fui buscar forças nem sei onde o tempo foi passando e nós aumentando a esperança hoje já lá vão 7 anos e ela curou-se e está linda embora haja sempre uns sustos pelo caminho.
    É isso que quero que tentes fazer, pegar o toiro ao lado da tua mãe, mas vivendo e fazendo a tua vida normal, tira a carta vais ter de a acompanhar aos tratamentos e ela vai gostar de te ver activo e cheio de garra e isso vai ajudar a tua mãe na cura .

    Como diz a Loulou somos umas grandes melgas mas eu tinha de te dizer isto vejo na tua maneira de te expressares que estás assustado, mas não tenhas medo felizmente muita gente se cura e a tua mãe irá ser uma vencedora.

    Desculpa esta melga mas vais ter muito que aturar .

    Beijinhos para ti e para a tua mãe.

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  7. Olá Rui
    Todos os teus sentimentos de dôr e raiva da doença se ter apoderado do corpo da tua Mãe faz parte do processo. O que todos sentem e mais Ela como Mãe é normal e chorar faz bem, desbafa e sem tiver que ter que dar uma má resposta não liguem. Uns dos primeiros sentimentos é a raiva e pensar: porquê eu?
    Depois a sensação que tudo chegou ao fim e rever-mos a Vida a passar á nossa frente em questão de segundos. Depois vem os exames o temido resultado mas aí já sabemos o que se passa e o que temos que fazer para lutar contra o "bicho".
    De seguida a espera da operação a vontade de retirar aquilo que não é nosso. Esses momentos são vividos com alguma ansiedade mas assim que nos operam sentimos um alivío grande, e depois de algum tempo de descanso á uma reunião entre médicos que decidem dentro da nossa doença qual o tratmento adequado, se Quimio e radio ou só uma das coisas.
    Também se pode dar o caso de ter que fazer quimio 1º para reduzir o tamanho temos Amigas que o fizeram para poderem ser operadas. Deixa que os médicos sabem como fazer e essa mistura de sentimentos não tenham medo de mostrar, só provam o Amor que sentem e juntos vão lutar para conseguírem vencer!
    Acredita numa coisa quando o momento chegar a tua Mãe vai buscar forças para lutar, eu era tão picuínhas e todos ficaram surpreendidos comigo :) tinha uma força e vontade de lutar e mostrar-me superior a tudo e todos e ainda hoje faço tratamentos de 3 em 3 semanas na sala de quimio e entro com um sorriso nos lábios :)) nós passamos a acreditar que existe alguém muito mais acima de nós que nos ajuda nos dias "menos" bons!
    Acredita sempre!!!!
    E passa esse sentimento para a tua Mãe é 50% de cura!
    Beijinhos e estamos todas aqui contigo e a tua Mãe ;)

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  8. Olá Rui,tens de ter muita força,eu tambem recebi uma noticia dessas da parte da minha mãe á pouco mais de 3 anos,eu sei que custa muito ouvir uma mãe dizer-nos estas coisas e o que nós sofremos.
    A minha mãe fez a cirurgia e retirou a mama,correu tudo bem,fez a quimiterapia e radioterapia. Ela tinha uma força enorme pra lutar contra aquele bichinho,eu digo tinha por ela já não se encontra comigo,faleceu no dia 5 de maio no IPO de Lisboa,por outras complicações. Dá força á tua mãe e vais ver que ela tambem vai ser uma mulher de forças,até ficas espantado.
    Infelizmente eu com 30 anos tambem ando no IPO em Lisboa devido ao colo do utero mas ainda só fiz uma pequena cirurgia,nada de tratamentos, até agora. Dá um grande beijo á tua mãe por mim e vais ver que vai ficar boa. FORÇA

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  9. Rui, como vês cá estamos todas a visitar-te para saber notícias da tua mãe.
    Ao ler o teu post sinto que estás muito assustado...é natural quem não fica? As dúvidas e a ansiedade dão cabo de nós, mas temos que ser muito positivos para aguentar toda essa pressão que antecede o resultado dos exames.
    Eu quando recebi a notícia, saí do consultório e nem me lembro se voei, ou demorei uma eternidade para andar os 50 metros até ao meu local de trabalho...cheguei lá, e atendi as clientes que estavam marcadas, mas nem sei como... assim foi até fazer todos os exames tentei fazer a minha normal, e tracei um plano: Todos os dias imaginava que uma cascata de água pura e cristalina entrava no meu ser e arrastava aquelas células anormais e eu ficava limpa e curada... A nossa mente tem um poder infinito, e eu acreditei sempre que ia vencer!!!

    Dia 10 de Julho faz 3 anos que o Mundo me caiu em cima, mas fui à luta com todas as minhas forças, e aqui estou viva, e feliz por ter superado essa fase tão difícil!
    A tua mãe também vai lutar, e vai vencer! Acredita!!!

    Um grande beijinho para os dois!

    Força!!!

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  10. tambem tenho 18 anos, a minha mae foi operada faz dia 4 um mes, pois tinha cancro da mama....acredita que a força e a coragem é muit muito importante....muita força se quiseres ler como tudo se passou podes sempre passar pelo blog e podes sempre fazer preguntas, estaremos aqui para qulquer coisa :) http://mlea-unidospelavida.blogspot.com/

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