domingo, 4 de outubro de 2009

4 de Outubro de 2009

A distancia é algo muito duro e todos sentimos os seus efeitos mais cedo ou mais tarde. É como um muro intransponível que se cria entre nós e aqueles que mais gostamos e que sabemos que não podemos ultrapassar. Telefonemas, fotografias, tudo serve para tentar amenizar os seus efeitos, mas a verdade é que por mais que queiramos, há sempre um bichinho que remói o nosso interior e que só acalma no momento em que finalmente podemos voltar a casa, mesmo que a visita pareça sempre demasiado curta.

A segunda semana longe de casa, pensei eu, seria mais fácil de suportar que a primeira. Grande engano. As praxes continuam em cima de mim em grande peso. Os doutores continuam com fome de caloiros e os disparates, situações estúpidas e brincadeiras sem sentido são mais que muita. Nós, caloiros, estamos a atingir o nosso limite. Não podemos estudar, não temos tempo para tratar dos nossos assuntos pessoais… enfim, se isto são as praxes de que tanto se fala, então o meu espírito académico é muito baixo, porque não consigo sentir qualquer excitação ao participar nelas. O pior no meio disto tudo são as saudade de casa. E sinto muitas. Enquanto de dia ando empenhado em todo o frenesim de aulas e praxes, consigo esquecer um pouco esse sentimento, mas quando chego a casa à noite e entro no meu quarto, o facto de estar sozinho, longe de tudo o que conhecia, sem ninguém para me receber, para me dizer boa-noite, tudo isso me deixa triste e sem vontade de continuar. A minha mãe teve quimioterapia na terça-feira e à noite, quando falei com ela, estava muito abalada porque supostamente foi mal recebida e tratada por uma médica no IPO e foi a chorar que me disse que lhe faço falta nestes momentos. Para quem está com todo estes abalos emocionais, ouvir algo assim não é fácil. Simplesmente não tenho cabeça para suportar as praxes neste momento. Ouvir insultos, servir de carrasco a meia dúzia de indivíduos dementes e estar preocupado com o que se passa em casa ao mesmo tempo não é possível. Já pensei em desistir… já pensei em contar a minha situação a um doutor… não sei o que hei-de fazer. Esta semana foi a semana das barraquinhas, o que traduzido significa a primeira semana de bebedeiras da universidade. Todos os meus colegas de curso (ou grande parte deles) apanharam grandes bebedeiras e regozijam-se disso. Para mim é estranho e até incomodo porque não estou habituado a um ambiente deste tipo nem me ínsito de forma alguma nele. Bebi um mini apenas para não desagradar a quem ma ofereceu e tive de ajudar duas colegas embriagadas a chegar a casa. Saber que será este o ambiente em que me vou entregar nos próximos seis anos é algo constrangedor. É um facto, sinto-me deslocado, num sitio que mal conheço, com pessoas a quem ainda não posso chamar amigos, longe da minha antiga vida.

Passei o fim-de-semana a estudar porque não tenho tempo ao longo da semana. Hoje a minha irmã chegou ao meu quarto e começou a chorar a dizer que tem saudades minhas e que não quer que eu vá embora. Quer que eu fique em casa todos os dias como fazia entes. É demais. Como posso ter coragem para ir embora na terça-feira? Como posso ter força para sair do conforto do lar, deixar a minha mãe doente para trás, dizer adeus à minha irmã, meter-me num quarto que não é meu e enfrentar as bestas que são os doutores e as suas estúpidas praxes?

Perguntas que têm uma única resposta: sendo forte. Mas estou numa daquelas épocas em que toda a força se escapou de mim….

15 comentários:

  1. Um beijinho, Rui. Para estas situações não há receitas milagrosas. Quando vim para a Faculdade, deixei tudo a quinze mil km de distância e pensei que não aguentava. Afinal, aguentei. É a única coisa que te posso testemunhar!

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  2. Rui
    As praxes como te disse antes não lhes acho graça :p mas se explicares a tua situação talvez eles entendam e te deixem em paz ou pelo menos se tornem mais leve. A tua Mãe quando não fôr bem tratada tem todo o direito de reclamar ela que nunca se cale!
    Os Drs têm que saber que estão a lidar com pessoas frágeis que precisam de atenção, carinho e profissionais a cima de tudo!!!!!!!!
    Eu graças a Deus sou uma sortuda tive uma equipe maravilhosa :) são os meus Anjinhos na Terra ;)
    As saudades da tua Mana com o tempo vai acabar por se habituar agora custa mas depois melhora, agora é tudo muito recente...e como é pequenina...os teus outros familiares tem que ajudar a tua Mãe e Mana para se tornar mais leve a vossa separação!
    Beijinhos e espero que as praxes terminem!!

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  3. Caro Rui... como entendo a tua situação.
    A primeira vez que saí de casa, já era 1 mulher feita e saío para ir trabalhar para outra cidade, cidade essa onde tinha casa de família, a casa onde habitualmente passo os fds e as férias.
    Sai do meu quarto para o meu outro quarto e acredita que não foi nada fácil. Ao chegar a casa á noite, sózinha, sem ninguém para falar, sem a ocupação habitual levou-me a pensar exactamente o mesmo que tu... No entanto com o tempo tudo mudou e passou a fazer parte da rotina. Sei que não é fácil mas tenta pensar que daqui a algum tempo tudo vai ser diferente.
    Não te digo para não chorares se for essa a tua vontade, porque ajuda. Sempre que tiveres saudades liga para casa.. talvez instalar net em casa para que possas falar com a tua irmã e com a tua mãe. Aderir a um tarifário de telemovel em que não paguem entre vocês...
    Tudo ajuda, mesmo sabendo que não estão ali, só o facto de ouvirem a voz já ajuda imenso.
    As praxes em breve acabam e tudo entra na normalidade. Tenta falar com algum "doutor" e explica-lhe a tua situação, pede-lhe para te ajudarem a sair mais cedo, pq não tens cabeça para tanta coisa. Certamente que eles irão compreender. Caso não o façam sê rude e diz que se eles continuarem vais declarar-te anti-praxe e assim deixas de participar nas praxes... sabendo de ante mão que nos próximos anos não poderás praxar nenhum caloiro. Quando as forças te faltarem pensa que alguém lá em cima olha por ti e procura no teu intimo força para vencer: ACREDITA POIS TU ÉS CAPAZ.
    Um grande beijinho

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  4. Olá Rui

    Eu também não achei piada nenhuma às praxes. Três dias depois, achei um desperdício de tempo e voltei para a terra. Só regressei na 3ª semana, aí sim, para cumprir o que pretendia: estudar. Depois, lá para o segundo semestre, vi que aquele tempo de praxe, até teria algo de bom. Como me vim embora, não tive madrinha (não sei se na tua FAC também é assim), todos se conheciam menos eu e três ou quatro aves raras, iguais a mim, e intergrar-me foi mais dificil.
    Há praxes que condeno mas no geral, acho que é um cartão de boas vindas, é acolher os recém chegados e ajudar. Na minha FAC pelo menos, as praxes não eram nada demais: pinturas, danças parvas, copos, palavras de ordem etc.
    Para os deslocados, como eu também fui, esta nova fase é bem mais dificil mas acredita, vale a pena, vais, daqui por algum tempo, sentir que essa é a tua casa, a tua terra e quem sabe, não queiras outra coisa. Não sei. Eu no 1º ano, ia a casa todos os fins de semana, depois passei para de 15 em 15 dias e com o passar do tempo, era mais espaçado.

    A tua mãe deve reclamar sim. É natural que todos sintam a tua falta mas é por uma boa causa e agora ou daqui a alguns anos, todos usam as asinhas e voam, certo? Desistir? Voto nem pensar!!! Dar a conhecer a situação familiar seria muito bom, uma ajuda concerteza e mais compreensão.
    Espero que esta semana corra melhor. Aproveita bem porque acho que são anos duros mas inesquecíveis.

    Beijinhos

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  5. Sempre achei as praxes uma grande palermices e tentei escapar a elas o mais possível. Mas fazem parte do ambiente único de faculdade e só duram uns tempitos. Não tarda, estás embrenhado nos estudos e já nem pensas nisso. As suadades também vão diminuindo conforme a integração vai aumentando e a tua família também se irá habituar a ter um elemento que já é um homem a viver fora de casa. O tempo tudo vai moldando.

    Tudo a correr bem com a tua mãe. Beijinhos

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  6. Ola Rui fiquei um pouco triste ao ler os teus pensamentos, mas uma coisa é certa desistir nunca...As praxes vao acabar, vais fazer novos amigos, vais ter tempo para estudares... As saudades essas so o tempo ajuda, a minha filha vinha a casa todos os fins de semana, e todos os dias telefonava..Vais ver que vais encontrar o teu equilibrio emocional e levar para a frente esse teu objectivo.

    Beijinhos para ti e para a tua mae

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  7. Olá Rui, boa tarde,

    Parabéns! Por tudo!

    Subscrevo as palavras sábias que me antecederam!

    Calma... Ninguém pode sujeitar-te a tratamentos que consideres humilhantes da tua dignidade pessoal, considerando principalmente o momento familiar difícil que atravessas. Procura refugiar-te/proteger-te - com inteligência (e antecipação) - dos momentos (académicos) que antevês menos bons!

    Procura manter o contacto diário - via internet, por exemplo - com a família! Mostra-te forte e optimista! Faz da "adversidade" FORÇA!

    As melhoras para a tua mãe, em progressiva recuperação da saúde, são os meus sinceros votos.

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  8. Rui, faço minhas todas as palavras atrás referidas. Sê FORTE, tudo vai melhorar, vais-te habituar e o tempo é dos melhores remédios.
    As melhoras para a tua mãezinha e vê se te vais safando a essas horrendas praxes (arranja umas doresitas no pé ou no braço, dentes nãaaaao).
    Beijinhos
    Natty

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  9. Estás agora no início, foram muitas mudanças e alterações na tua vida. Mas desistir nunca! Daqui por uns anos - e vais vera rapidez com que passam- ainda te vais rir deste teu início da Faculdade!
    Quanto às praxes, como já tinha dito não gostei e só regressei ás aulas quando terminaram.
    Estar sozinho até acaba por ser bom: ajuda-te a estudar e a por os teus pensamentos em dia.
    Lembra-te que estás já um homem, que tem de encarar a sua nova vida de frente, sem desistir e a retirar o melhor de tudo dessa´´unica experiência de vida.
    Quanto á tua irmã: quando chegar a altura dela já poderás contar-lhe a tua. É a ordem natural da vida, sobretudo dos estudantes que têm de ir para longe para desenharem o seu futuro.
    Muita força para a tua mãe.
    E quanto a ti, vais ver como vai ser mais fáciol a partir de agora! Bjs

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  10. Olá Rui

    A semana passada ainda ri das tuas descrições, que tolice a minha! Percebe-se que não tens disposição para brincadeiras o que é perfeitamente compreensivel. No inicio dos anos oitenta quando entrei para a faculdade as praxes eram divertidas, muito mesmo, para os veteranos e para os caloiros. Hoje em algumas faculdades são uma estupidez. Mas não penses nunca em desistir, melhores dias virão. Aguenta forte. Pensa que a tua mãe diz que tu lhe fazes falta mas de certeza quer que tu estejas aí.Ela está muito frazilizada é natural.Desejo do coração que ambos ultrapassem essa dor que se chama distancia, e que a vida volte a sorrir para vocês.
    Muitos beijinhos
    Emilia

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  11. Olá:)
    Não sei bem o que dizer...mas já tendo sido caloira e "dra" acho que deverias falar com alguém que te está a praxar e contar a situação...isso não é um favor que pedes, não é algo de que te devas sentir mal nem nada disso...é apenas conversar com outra pessoa, que afinal de contas nem conheces mas está a entrar na tua vida...e contar-lhe pura e simplesmente...e talvez dizeres-lhe...que...ou as coisas mudam ou com pena tua iras deixar essa parvoice das praxes...De universidade para universidade o ambiente muda...e não sei como é em vila real...mas n deve ser fácil não :S

    Isso é o lado parvo de tudo...e o lado desnecessário...quanto às outras coisas...tens que ser forte !!! os telefonemas atenuam as saudades...mas a preocupação está sempre lá...e vai estar sempre...quer entre a tua família, quer se alguém está doente ou não...quer entre verdadeiros amigos ou o que for ...porque quando se gosta existem sempre as saudades e as preocupações...não temos alternativa...ou aprendemos a viver com elas e tentanos ser felizes...ou andamos sempre com uma nuvem sobre nós:S...
    tenta ser forte
    bjo :)

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  12. Força muita força, vais ver que com força de viver todos os obstaculos que te vão aparecer vais supera-los.Os obstaculos vão aprecendo aprende-se a derruba-los.Por vezes é dificil adptação a coisas diferentes e novas,principalmente quando não andamos com disposição para nada mas nunca devemos desistir.
    Bjs para ti a e para tua mãe.

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  13. Ola Rui como vais? E a tua mãe? Vai dando noticias...
    Beijinhos

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  14. Sabes, este ano em março tb descobrimos q a minha mãe padecia de cancro, no caso dela era no estomago já localmente avançado, nunca chorei tanto na vida, nunca sofri tanto, nunca pensei q ouvir essa palavra "tumor" custasse tanto, ela operou, a medica na altura não nos deu grandes expectativas, mas a verdade é que ela nem fez quimioterapia (nem sei se é bom ou mau) o que é facto é q eu digo q ela teve cancro no estomago e digo-o no passado com toda a minha força e vontade pq espero q ela tenha ultrapassado o problema, mas na verdade vivo aterrorizada à espera q ela vá fazer os primeiros exames pós-cirurgia.

    O que eu te quero dizer é q não estás sozinho, é terrivel no inicio, a tua vida nunca mais será a mesma, tu nunca mais serás o mesmo, tenta superar, sobreviver nestes tempos, pq daqui a 5 anos, qdo a tua mãe puder dizer q a probabilidade de padecer de cancro é igual à de qualquer outra pessoa, nessa altura vais respirar de alivio e dar graças por teres continuado com a tua vida,por teres apoiado a tua mãe e por teres dado carinho à tua mana.

    Quanto às praxes, bem, eu tb fui caloira em VR, era de engenharia, mas fomos praxados nas vacarias como se fossemos de med. vet., eu na altura achei piada, gostei da praxe embora tenha andado no meio da bosta, mas tb n tava a passar por uma situação como tu estas a passar agora, por isso aconselho-te a falares c alguem sobre o que sentes, não no sentido de os encostares à parede, ou numa de te escapares à praxe, mas sim numa dos teus colegas te ajudarem a superar esta fase, te apiarem, te ajudarem a passar o tempo, vais ver q a semana até custa menos a passar e tudo(daqui a 2 meses os tais "doutores" vão ser os teus amigos, e vais ver q não são assim tão maus, são apenas miudos armados em gente crescida. Eu quando estive aí vi colegas q coitados aconteceu-lhes do pior, e tdo pq n souberam levar a praxe na desportiva, claro q a praxe para rapariga é mais leve q para rapaz, mas tenta levar na brincadeira, vais ver q eles vão simpatizar contigo, pareces-me um miudo c a cabeça no lugar, vais fazer muitos amigos e qdo deres conta já es finalista, tu n imaginas como o tempo passa!! agora crises existenciais é k nem pensar, olha q qdo eu voltar a ler o teu blog n quero cá saber de lamechices, tu levanta-me esses ombros e confia em Deus (sim, eu sei q és um pouco ceptico, mas nestas alturas ajuda ter ao q te "agarrares")

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  15. Olá Rui...
    Eu fico triste por saber que Vila Real continua na mesma...tembém eu me senti assim no inicio do meu curso e não estava a passar por metade do que tu estás a passar...
    Força...as coisas já devem estar mais calmas por lá...
    Beijinhos para ti e as melhoras para a tua mãe.

    Helena

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